Compreendemos as artes como parte da vida – e não um mundo paralelo, fora da existência ou num âmbito isolado da «cultura». Como afirmou Sophia de Mello Breyner Andersen, na intervenção que fez na Assembleia Constituinte, em 2 de setembro de 1975: «(…) a cultura não é um luxo de privilegiados, mas uma necessidade fundamental de todos os homens e de todas as comunidades. A cultura não existe para enfeitar a vida, mas sim para a transformar –para que o homem possa construir e construir-se em consciência, em verdade e liberdade e em justiça (…)
In https://www.pna.gov.pt/premissa-e-valores/
Cecília Pimenta Correia
Coordenação do Projeto Cultural de Escola – Plano Nacional das Artes
Tema: ?adrão – os padrões que nos atravessam
A apropriação escolar de um tema ou um mote que permita uma interpretação transversal a todas as disciplinas que, por conseguinte, se dispõem a encontrar-lhe diferentes significados, mediante linguagens e formatos inesperados constitui um processo de trabalho muito comum e que consegue suscitar abordagens e interpelações plurais do mesmo significando.
Não se trata, de resto, de impor um qualquer colete de forças semântico ou formal que estorve a variedade de pensamentos, de suportes e processos. Trata-se, bem pelo contrário, de um exercício de resistência e de contestação ao confinamento e resignação a que, em tantos contextos, se condena a linguagem e o pensamento.
Todo o exercício criativo e artístico encontra-se tradicionalmente suportado no motivo e no propósito de combater o estrangulamento do significado, a asfixia da definição, a amarra do conceito. Pegar num objeto e dele retirar toda a sua universalidade e diversidade representa o esforço intrínseco do Autor. Nesse sentido, cada Autor é necessariamente um Criador ao recordar, recriar ou simplesmente mencionar uma face insólita, esquiva, do seu objeto.
Torna-se, depois, inevitável constatar a multidão de visões e a multiplicidade de camadas que cimentam o significado profundo e plural de uma única coisa.
A escola, palco privilegiado do conhecimento aplicado, deve acompanhar esta missão de exploração criativa. O plano das Artes convida o nosso agrupamento escolar a desvendar os múltiplos sentidos e as ambiguidades do conceito “padrão”.
Concebido como a repetição de um determinado comportamento, de um dado agir e pensar, o termo “padrão” habita praticamente todos os ramos e corredores do Saber humano. Do design à matemática, da filosofia, psicologia, à física e à história, da linguagem ao corpo, o termo “padrão” consegue acolher as exigências de todos. Seguir um padrão de criatividade e de impulso e desse modo, recusar ou – por que não? – aprofundar padrões de constância e unissonância, seguir as linhas fractais, esperadas e inesperadas, da imaginação e da ciência, visitar o seu interior e descobrir a essência do padrão, constitui tarefa empolgante, pelo que encerra de exigente e de tradutor da realidade.
A arte, de mão dada com a ciência, são as grandes intérpretes do futuro e não se restringem aos discursos unívocos, antes se afirmam na colaboração entre a multiplicidade de saberes e inspirações que edificam a frágil e poderosa existência humana.
Cecília Pimenta Correia
outubro de 2022